quinta-feira, 25 de abril de 2013

Ciência, Psicologia, Física e Espiritualidade



Desde que a Psicologia separou-se da Filosofia adquirindo status de ciência no final do século XIX, buscou estabelecer um conjunto de princípios que compreendesse o ser humano e pudesse favorecer o seu processo de desenvolvimento, cura e aprendizagem. Surgiram distintas escolas e de acordo com sua visão antropológica e visão de mundo, desenvolveram diferentes recursos de atuação.
Na década de 50, Abrahan  Maslow, ampliou o horizonte da psicologia trazendo questionamentos a respeito de quão pouco a psicologia havia  contribuído para questões tão dolorosas como as guerras e sofrimento humano. O referido autor declarou que até então Freud havia feito um excelente trabalho sobre o lado doente do ser humano, mas que deveríamos conhecer também o quem é o ser humano saudável, seu desenvolvimento, sua natureza,  para que realmente pudéssemos contribuir para uma sociedade melhor.
Seus estudos no contexto antropológico, psíquico e social levaram-no também a pesquisar sobre o que dominou de experiências culminantes, enfatizando que tais experiências remetem a estados mais elevados da consciência, promovendo o autoconhecimento com maior profundidade, bem como a emergência de valores positivos e de uma ética natural saudável. Maslow atribuiu a transcendência  os aspectos mais elevados do ser, os quais se dão na relação  intrapessoal, interpessoal e mais além. Deixava claro que a dimensão espiritual é parte da nossa biologia subjetiva e o ser plenamente humano  envolve corpo e espírito.
A psicologia então é dividida em quatro grandes correntes denominadas por forças, sendo a primeira força a Psicologia Comportamental,  a segunda força a Psicanálise, a terceira força a psicologia Humanista e a quarta força a Psicologia Transpessoal.  A psicologia transpessoal surge então a partir das ideias da psicologia humanista.  Maslow acreditava que vivenciar o aspecto transcendente era de extrema importância para nossa vida.  Pensar de forma holística, transcendendo dualidades como o certo e o errado, o bem e o mal ou então o passado, o presente e o futuro é fundamental.
 Para ele, sem a dimensão espiritual o ser humano tornava-se violento, niilista, apático, ou vazio de esperança. Criticou tanto a Ciência positivista quanto as religiões, pois ambas haviam descaracterizado esta unidade (corpo-espírito), a Ciência focando só a matéria, a religião, só o espírito.  Trouxe a psicologia uma nova visão  que reconhece a espiritualidade e a necessidade  de transcendência , legitimando experiências que até então foram deixadas de lado, ou pior, às vezes consideradas patológicas ou superstição. Evidente que no âmbito psico-espiritual  há vivencias patológicas, mas o tratamento  deve contemplar o ser em sua inteireza para realmente ajudá-lo a recuperar sua sanidade.
Assim podemos definir a Psicologia Transpessoal como uma abordagem que tem como objetivo tratar o homem como um ser integral, um ser complexo que engloba aspectos biológicos, mentais, sociais, ecológicos e espirituais, por intermédio do estudo da consciência. 
Mas, quem pode ser considerado o primeiro psicólogo transpessoal é Carl Gustav Jung. As diferenças entre  a psicanálise freudiana e as teorias de Jung são muito bem representativas das diferenças entre uma psicoterapia mecanicista e biomédica e uma mais humana e holística.
Freud sempre demonstrou durante sua vida um interesse por religião e espiritualidade, mas como expressão de recalques do desenvolvimento psicossexual do homem expresso na forma da cultura religiosa. Ele acreditava que era possível uma compreensão do processo irracional conflitivo, que viria das fases do desenvolvimento psicossexual, responsável pelo surgimento da religião. Jung, ao contrário, dispunha-se a aceitar o irracional e o paradoxal como válidos em si mesmos. Ele estava convicto da realidade da dimensão espiritual no esquema universal das coisas. Sua suposição básica era que o elemento espiritual é uma parte orgânica integral da psique. A verdadeira espiritualidade, ou a sua busca, é um aspecto pulsional do inconsciente coletivo, independente do condicionamento da infância e da vida do individuo, do ponto de vista cultura e educacional. Assim, se a análise e a auto-exploração alcançam suficiente profundidade, os elementos espirituais emergem espontaneamente na consciência. A maior contribuição de Jung para a psicoterapia é seu reconhecimento das dimensões espirituais da psique e suas descobertas nos campos transpessoais.
O que faz Jung um gênio da psicologia moderna é sua ampla visão, que vai bem além de sua época e o seu método científico.  O enfoque de Freud era estritamente histórico e determinístico, embasado no paradigma cartesiano-newtoniano; ele se interessava em encontrar explicações lineares-racionais para todos os fenômenos psíquicos, seguindo uma gênese histórico-biográfica. Jung estava convencido de que a causalidade linear não era o único principio mandatário na natureza. Ele criou o termo sincronicidade, para designar um principio de ligação de eventos de forma não-causal, o que explicaria as chamadas coincidências significativas de eventos separados  no tempo e/ou espaço. Também interessava intensamente pelo desenvolvimento da física moderna. Foi Einstein que, durante um encontro pessoal, encorajou Jung a perseguir o conceito de sincronicidade, e Wolfgang Pauli, um dos fundadores da teoria quântica publicou um ensaio conjunto com Jung sobre sincronicidade, bem como escreveu um estudo sobre os arquétipos na obra do físico Johannes Kepler. Não deixa de ser irônico  o fato de que, embora Freud se orgulhasse da Psicanálise ser atrelada ao mecanicismo newtoniano e de que os psicanalistas serem ‘mecanicistas incorrigíveis’, ter sido a psicologia ‘esotérica’ de Jung que tenha exercido maior impacto entre os gênios da ciência moderna.
Mas enfim, o que tem a ver Física e Psicologia? Os físicos modernos têm muito a dizer sobre a importância da consciência na definição do que seja realidade. Eles, juntamente com os místicos genuínos, estão cada vez mais próximos uns dos outros em suas tentativas para descrever o que seja o universo*. Os resultados das experiências tranpessoais sugerem que a natureza da gênese da consciência podem ser mais realisticamente descritas por místicos e fisicos modernos do que pela mais estável e aceita linha psicológica acadêmica. O enfoque holístico da realidade propiciou o surgimento de um novo campo de pesquisa, onde o principal objetivo de estudo é a consciência humana. Utiliza conhecimentos de várias disciplinas ocidentais e orientais, considerando as recentes descobertas em muitos domínios científicos como a Física, Neurologia, Psicologia, Parapsicologia, Psiquiatria, Biologia Molecular, Sociologia, Antropologia, Neunatologia, entre outras, buscando uma integração desses conhecimentos.
Assim sem dúvida alguma a abordagem Transpessoal revela um olhar contemporâneo necessário à nossa Psicologia no momento atual.

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