Desde
que a Psicologia separou-se da Filosofia adquirindo status de ciência no final
do século XIX, buscou estabelecer um conjunto de princípios que compreendesse o
ser humano e pudesse favorecer o seu processo de desenvolvimento, cura e
aprendizagem. Surgiram distintas escolas e de acordo com sua visão
antropológica e visão de mundo, desenvolveram diferentes recursos de atuação.
Na
década de 50, Abrahan Maslow, ampliou o
horizonte da psicologia trazendo questionamentos a respeito de quão pouco a
psicologia havia contribuído para
questões tão dolorosas como as guerras e sofrimento humano. O referido autor
declarou que até então Freud havia feito um excelente trabalho sobre o lado
doente do ser humano, mas que deveríamos conhecer também o quem é o ser humano
saudável, seu desenvolvimento, sua natureza,
para que realmente pudéssemos contribuir para uma sociedade melhor.
Seus
estudos no contexto antropológico, psíquico e social levaram-no também a
pesquisar sobre o que dominou de experiências culminantes, enfatizando que tais
experiências remetem a estados mais elevados da consciência, promovendo o
autoconhecimento com maior profundidade, bem como a emergência de valores
positivos e de uma ética natural saudável. Maslow atribuiu a
transcendência os aspectos mais elevados
do ser, os quais se dão na relação
intrapessoal, interpessoal e mais além. Deixava claro que a dimensão
espiritual é parte da nossa biologia subjetiva e o ser plenamente humano envolve corpo e espírito.
A
psicologia então é dividida em quatro grandes correntes denominadas por forças,
sendo a primeira força a Psicologia Comportamental, a segunda força a Psicanálise, a terceira
força a psicologia Humanista e a quarta força a Psicologia Transpessoal. A psicologia transpessoal surge então a
partir das ideias da psicologia humanista.
Maslow acreditava que vivenciar o aspecto transcendente era de extrema
importância para nossa vida. Pensar de
forma holística, transcendendo dualidades como o certo e o errado, o bem e o
mal ou então o passado, o presente e o futuro é fundamental.
Para ele, sem a dimensão espiritual o ser
humano tornava-se violento, niilista, apático, ou vazio de esperança. Criticou
tanto a Ciência positivista quanto as religiões, pois ambas haviam
descaracterizado esta unidade (corpo-espírito), a Ciência focando só a matéria,
a religião, só o espírito. Trouxe a
psicologia uma nova visão que reconhece
a espiritualidade e a necessidade de
transcendência , legitimando experiências que até então foram deixadas de lado,
ou pior, às vezes consideradas patológicas ou superstição. Evidente que no
âmbito psico-espiritual há vivencias
patológicas, mas o tratamento deve
contemplar o ser em sua inteireza para realmente ajudá-lo a recuperar sua
sanidade.
Assim
podemos definir a Psicologia Transpessoal como uma abordagem que tem como
objetivo tratar o homem como um ser integral, um ser complexo que engloba
aspectos biológicos, mentais, sociais, ecológicos e espirituais, por intermédio do estudo da consciência.
Mas,
quem pode ser considerado o primeiro psicólogo transpessoal é Carl Gustav Jung.
As diferenças entre a psicanálise
freudiana e as teorias de Jung são muito bem representativas das diferenças
entre uma psicoterapia mecanicista e biomédica e uma mais humana e holística.
Freud
sempre demonstrou durante sua vida um interesse por religião e espiritualidade,
mas como expressão de recalques do desenvolvimento psicossexual do homem
expresso na forma da cultura religiosa. Ele acreditava que era possível uma
compreensão do processo irracional conflitivo, que viria das fases do
desenvolvimento psicossexual, responsável pelo surgimento da religião. Jung, ao
contrário, dispunha-se a aceitar o irracional e o paradoxal como válidos em si
mesmos. Ele estava convicto da realidade da dimensão espiritual no esquema
universal das coisas. Sua suposição básica era que o elemento espiritual é uma
parte orgânica integral da psique. A verdadeira espiritualidade, ou a sua
busca, é um aspecto pulsional do inconsciente coletivo, independente do
condicionamento da infância e da vida do individuo, do ponto de vista cultura e
educacional. Assim, se a análise e a auto-exploração alcançam suficiente
profundidade, os elementos espirituais emergem espontaneamente na consciência.
A maior contribuição de Jung para a psicoterapia é seu reconhecimento das
dimensões espirituais da psique e suas descobertas nos campos transpessoais.
O que
faz Jung um gênio da psicologia moderna é sua ampla visão, que vai bem além de
sua época e o seu método científico. O
enfoque de Freud era estritamente histórico e determinístico, embasado no
paradigma cartesiano-newtoniano; ele se interessava em encontrar explicações
lineares-racionais para todos os fenômenos psíquicos, seguindo uma gênese
histórico-biográfica. Jung estava convencido de que a causalidade linear não
era o único principio mandatário na natureza. Ele criou o termo sincronicidade,
para designar um principio de ligação de eventos de forma não-causal, o que
explicaria as chamadas coincidências significativas de eventos separados no tempo e/ou espaço. Também interessava
intensamente pelo desenvolvimento da física moderna. Foi Einstein que, durante
um encontro pessoal, encorajou Jung a perseguir o conceito de sincronicidade, e
Wolfgang Pauli, um dos fundadores da teoria quântica publicou um ensaio
conjunto com Jung sobre sincronicidade, bem como escreveu um estudo sobre os
arquétipos na obra do físico Johannes Kepler. Não deixa de ser irônico o fato de que, embora Freud se orgulhasse da
Psicanálise ser atrelada ao mecanicismo newtoniano e de que os psicanalistas
serem ‘mecanicistas incorrigíveis’, ter sido a psicologia ‘esotérica’ de Jung
que tenha exercido maior impacto entre os gênios da ciência moderna.
Mas
enfim, o que tem a ver Física e Psicologia? Os físicos modernos têm muito a
dizer sobre a importância da consciência na definição do que seja realidade.
Eles, juntamente com os místicos genuínos, estão cada vez mais próximos uns dos
outros em suas tentativas para descrever o que seja o universo*. Os resultados
das experiências tranpessoais sugerem que a natureza da gênese da consciência
podem ser mais realisticamente descritas por místicos e fisicos modernos do que
pela mais estável e aceita linha psicológica acadêmica. O enfoque holístico da
realidade propiciou o surgimento de um novo campo de pesquisa, onde o principal
objetivo de estudo é a consciência humana. Utiliza conhecimentos de várias
disciplinas ocidentais e orientais, considerando as recentes descobertas em
muitos domínios científicos como a Física, Neurologia, Psicologia,
Parapsicologia, Psiquiatria, Biologia Molecular, Sociologia, Antropologia,
Neunatologia, entre outras, buscando uma integração desses conhecimentos.
Assim sem dúvida alguma a
abordagem Transpessoal revela um olhar contemporâneo necessário à nossa
Psicologia no momento atual.